Um dos grandes destaques do futebol ucraniano, Júnior Moraes, que vestiu a camisa do Corinthians na última temporada, deseja voltar ao país. O jogador deixou o país diante da guerra com a Rússia.
Hoje treinando no CT do Santos, o atleta deixou claro que não sente mágoas do Timão, quer voltar a atuar pela seleção ucraniana e revelou uma promessa feita à família, em entrevista ao ‘ge’.
Os traumas da Guerra
Toda essa história de problemas psicológicos enfrentados e agora tratados e superados por Moraes tem como pano de fundo a guerra entre Rússia e Ucrânia. O jogador viveu um verdadeiro pesadelo no país.
Ele testemunhou de perto mortes e perdeu contato não só com amigos seus, mas também com amigos de seus filhos, Isac Luca e Maria Júlia, crianças de nove e sete anos, respectivamente.
“Difícil explicar para os filhos sobre uma guerra e para as pessoas, também, porque aqui no Brasil não tem histórico: explosões, assassinatos em massa, traumas. Meu filho diretamente não passou por nada, mas indiretamente na cabeça dele todos os amigos estão mortos”, contou Júnior Moraes.
“Já fez desenhos com pedaços de crianças, fala que explodiram os amigos. Muito pesado lidar com isso. Todos os dias, as orações dele e da minha filha é pelo fim da guerra da Ucrânia. Não tivemos mais contatos com os amigos deles de lá. Para eles, todos morreram”, revelou o ex-Corinthians.
O retorno para a Ucrânia
Moraes possui dupla cidadania e, portanto, como cidadão ucraniano, poderia ter sido convocado pelo governo para auxiliar no combate às investidas russas no território. O jogador chegou a São Paulo em março de 2022 depois de doar quase R$ 300 mil ao país.
Foi um momento de alívio pelo reencontro com a família. No entanto, deixou um trauma que o acompanhará pelo resto da vida.
Desde então, Moraes prometeu à esposa que não colocaria mais sua vida em risco em meio ao cenário de guerra, apesar de sonhar dia e noite em retornar para defender a seleção ucraniana:
“Cogitei e muito voltar. É um lugar pelo qual tenho carinho e amor e onde fiquei a maior parte da carreira. Faltam 22 gols para ser o maior artilheiro da história do país, fiz parte da seleção. Várias e várias vezes perdi noite de sono pensando em voltar para a Ucrânia, mas fiz uma promessa para minha esposa de não colocar minha vida em risco. Tenho dois filhos pequenos que precisam de nós. Para eles, seria muito difícil entender a situação. Por mais que eu tenha muita vontade de voltar, não posso agora.”
O jogador, por meio do Instituto Moraes, realiza doações constantes à Ucrânia, direcionadas principalmente para crianças com câncer, e se vê como um porta-voz no Brasil sobre os desafios enfrentados pelo país europeu no contexto da guerra.
Devido à sua cidadania ucraniana e sua proficiência no idioma local e no inglês, Moraes desempenhou um papel crucial no acolhimento e repatriação de atletas estrangeiros, principalmente brasileiros, no início da invasão da Ucrânia pela Rússia, no primeiro semestre de 2022.