Em entrevista para o ‘ge’, Júnior Moraes, que estava no Corinthians na temporada passada, abriu o jogo sobre a falta de espaço que vem sofrendo no futebol brasileiro.
O jogador, que está treinando com um grupo de jogadores afastados do Santos, também afirmou que não sente mágoa do Corinthians e mandou um recado a um ex-dirigente do clube.
Falta de espaço no Brasil
Para Moraes, o fato de os clubes no Brasil não estarem habituados a lidar com atletas que tenham passado pela experiência de testemunhar uma guerra foi um elemento que ampliou o desafio:
“Eu acho que o Corinthians, dentro do possível, estava fazendo o que tinha no alcance. Nunca tiveram um jogador com histórico de guerra dentro do clube. Comecei a ter alergia, meu rosto inchava na concentração e precisava sair correndo para o hospital. O único gol que eu fiz passei a madrugada anterior no hospital. Quando dou a entrevista, no intervalo, o rosto ainda estava inchado.”
Júnior Moraes contou que fez trabalho por fora, com uma psicóloga:
“Eu não volto para o segundo tempo porque fiquei na enfermaria do estádio, deitado na maca tomando remédio na veia. O clube tentou ajudar. Tive contato com profissionais incríveis na área médica: Joaquim Grava, Julio Stancati e Ana Carolina Corte, o Bruno Maziotti. Sempre tiveram carinho comigo. Dentro do clube não tinha psicóloga, mas por fora eu fazia particular a terapia para tentar entender.”
Porém, tudo mudou. “Hoje, por incrível que pareça, não tive mais alergia e nem lesão. Tenho a lembrança de me sentir exausto, de me ver cansado o tempo todo, mesmo lutando para tentar ir”, contou Moraes.
Sem mágoas do Corinthians
Atualmente, Júnior Moraes conta que entende tudo o que passou e diz não sentir qualquer mágoa envolvendo o Corinthians. “Eu não tenho mágoa do Corinthians. Preciso ter inteligência emocional de entender isso: eu não estava no momento de performar. Separar, entender que a gente é humano”, disse ele.
“É só olhar a minha carreira para ver que foi a primeira vez que isso aconteceu. Serviu de experiência. Impossível falar que me arrependo. Vivi muita coisa boa: arena lotada, gol, torcida. Realmente, não foi em vão. Vi uma entrevista de um jogador de basquete dizendo que no esporte não há derrota, é vitória ou aprendizado”, relembrou.
“Eu não queria me expor, não queria falar, vivi 12 anos quietinho fora do Brasil. Meu filho acabou sofrendo por ver o pai sendo xingado, não consegui blindar ele de tudo. Minha esposa também se chateou, mas levo comigo o carinho e a compreensão que recebi de muitos”, completou ele.
Cobrança contra o time
Depois de ser afastado, Moraes recorreu à Justiça em busca da rescisão contratual e cobrou R$ 3,8 milhões do Corinthians. Após o início do processo, o gerente de futebol Alessandro Nunes o chamou de “covarde e mentiroso”.
Depois disso, chegaram a um acordo, o qual, de acordo com Moraes, tem sido cumprido. Ele tenta não guardar rancor do dirigente:
“Não houve pedido de desculpas. Mas, antes, ele (Alessandro) já havia exposto que estava com problemas pessoais e bastante pressionado no clube. Acredito que eu fui um bode expiatório. Não levo para o lado pessoal. Não acho que seja mau caráter, mas acabou extrapolando os limites do respeito.”