Um conjunto de torcedoras do Athletico oficializou um documento relatando ameaças devido a suas manifestações contrárias à contratação do técnico Cuca, anunciado no início da semana como o novo treinador do clube paranaense.
O grupo dirigiu-se às autoridades, expressando preocupação com a integridade física e psicológica dos torcedores durante os jogos do Furacão.
Torcedoras do Athletico relatam ameaças
O documento, endossado pelo coletivo Atleticaníssimas, foi encaminhado à Polícia Civil e ao Athletico. “Recebemos muitas mensagens. “Eu sei onde você assiste o jogo”, mencionando o setor da arena que assisto aos jogos. Tem muitas mulheres que estão com medo de comparecer à arena”, relatou uma torcedora, ao ‘ge’.
“O Athletico é minha vida, acompanho desde que me conheço por gente, mas estou decidida a não ir ao estádio por medo do que pode acontecer comigo. Nunca passei por isso, nunca recebi tanta mensagem odiosa na minha vida”, completou a fã do Athletico.
Em trecho do ofício, elas lamentam a situação:
“Desde o dia 04/03/2024, quando anunciado oficialmente o nome do profissional para ocupar o cargo de técnico de futebol da equipe principal do clube, torcedores, especialmente mulheres, vêm sofrendo ataques e ameaças privadas e públicas em redes sociais, além de ligações telefônicas ameaçadoras – com menção à localização de setor e cadeira dentro do estádio -, simplesmente por manifestarem sua OPINIÃO acerca da referida contratação desta Diretoria.”
A contratação de Cuca
O treinador foi oficialmente anunciado pelo Athletico na segunda-feira (4). Cuca, inclusive, foi a escolha da diretoria para suceder Juan Carlos Osorio, demitido no final de semana.
O anúncio gerou divisões entre os torcedores do Athletico nas redes sociais devido ao envolvimento do treinador em um caso de abuso sexual de uma menor de idade ocorrido em 1987, na Suíça.
Muitas torcedoras, assim como torcidas e movimentos, expressaram suas opiniões nas redes sociais, protestando contra a contratação de Cuca. Em contrapartida, em uma enquete realizada no portal ge, mais de 85% dos 5,7 mil votos demonstraram aprovação pela escolha do treinador.
Feliz Dia da Mulher para quem? pic.twitter.com/o4wt3fm2Yg
— Atleticaníssimas® (@atleticanissima) March 8, 2024
Condenação
O caso teve início em 1987, durante uma excursão do Grêmio pela Europa. Cuca e outros três atletas – Henrique Etges, Eduardo Hamester e Fernando Castoldi – foram presos sob a acusação de terem tido relações sexuais com uma garota sem o devido consentimento.
De acordo com a investigação da polícia local, a jovem dirigiu-se com amigos ao quarto dos jogadores do Grêmio. Os atletas, então, a puxaram para dentro do quarto. Cuca sempre negou ter participado do ocorrido.
Os quatro jogadores foram detidos em 30 de julho de 1987, horas após o incidente, e ficaram em prisões distintas durante a investigação do caso.
Após um mês de prisão, os quatro atletas pagaram uma fiança de 15 mil francos suíços e retornaram ao Brasil. Eles não compareceram pessoalmente ao julgamento do caso, que ocorreu dois anos depois, nos dias 14 e 15 de agosto de 1989.
Cuca, Henrique e Eduardo foram sentenciados a 15 meses de prisão pelos crimes de coação e ato sexual com menor. Fernando, por sua vez, foi condenado apenas por coação, recebendo uma pena de três meses de prisão.
Todos os quatro foram contemplados com uma pena condicional, conforme previsto na legislação suíça, o que significa que não precisaram cumprir pena de prisão, a menos que cometessem outro delito durante um prazo determinado pelo juiz. Esse período prescreveu.
No início do ano, o Tribunal Regional de Berna-Mittelland anulou o julgamento por falhas processuais. A decisão não entra no mérito da questão, ou seja, não trata da culpa ou inocência do treinador. Tecnicamente, porém, como o processo foi extinto, Cuca não pode ser considerado culpado de qualquer acusação.